*Resenha* Menina Feita de Estrelas

Esse livro me fez pensar muito, e eu não consegui parar de ler. Já digo que é uma indicação para todos, pois o tema é de extrema importância, e nos faz questionar vários pontos, e o principal, para mim, é: até onde nosso vai nosso feminismo?

Mara se encontra em uma posição difícil quando seu irmão gêmeo Owen é acusado de estupro pela namorada. Ela conhece Hannah, a namorada, e não acredita que ela mentiria sobre isso. Mas se Hannah não está mentindo, significa que seu irmão fez algo imperdoável. Dividida entre seu amor por Owen e seus ideias feministas, Mara revisita seus próprios traumas e passa a observar as pessoas ao seu redor com outros olhos.

É um tópico muito complicado, pois o possível agressor é a pessoa mais próxima da protagonista, seu irmão gêmeo, com quem ela divide quase tudo. Isso levanta questões sobre consentimento e pontos de vista. É a clássica história “ele disse, ela disse”, e ninguém sabe muito bem em quem acreditar.

Mara quer tanto acreditar na palavra do irmão. Ela sabe que se a situação fosse com qualquer outra pessoa, ela e seu coletivo feminista Empodera estariam do apoiando a garota e insistindo que o estuprador fosse punido. Mas é Owen, seu gêmeo, que chora nos braços da mãe e diz que é tudo um mal entendido. Como ele poderia ter feito algo tão terrível?

Owen é meio babaca desde o começo. Ele é o próprio “macho escroto” com os amigos, agindo de forma diferente quando está com Mara, o que ela só percebe de verdade após a acusação de Hannah. Ele conta para todo mundo que a namorada ficou brava por eles brigarem, e por isso espalhou o rumor do estupro.

Mara sente-se muito sozinha ao lidar com tudo isso, principalmente pois sua melhor amiga Charlie é também sua ex-namorada, e elas não estão se falando. Dessa forma, ela acaba se aproximando de Alex, o melhor amigo de Owen, que, assim como ela, não está tão certo de que Owen é inocente. Há momentos de indecisão sobre seus sentimentos por Alex e Charlie, todos que estão em situações vulneráveis. Alex mal consegue olhar para Owen, e Charlie está apoiando Hannah.

O livro mostra em várias cenas como nossa sociedade culpa a vítima e protege o agressor. Hannah mal consegue sair da cama, e quando finalmente cria forças para voltar à escola, é recebida por um bando de garotos a chamando de vadia. Em nenhum momento Owen sofre da mesma forma, pois ele pode simplesmente dizer que foi um mal-entendido e todos aceitam. A própria Mara passou por uma terrível situação de abuso, mas nunca conseguiu contar a verdade, por sentir que não haveria consequências. 

Uma das partes que mais me fez pensar foi quando a mãe de Owen e Mara protege o filho e insiste na história do mal-entendido. A mãe sempre foi feminista, ensinou Mara sobre a luta das mulheres por igualdade, ficou muito orgulhosa quando Mara fundou o Empodera na escola, mas não consegue nem processar a possibilidade de seu filho ter estuprado uma garota. É meio que “sou feminista até certo ponto, enquanto não estiver contra mim”. Mara fica surpresa e decepcionada com o posicionamento da mãe, que tanto lhe ensinou união entre mulheres, mas falhou ao ensinar o filho sobre consentimento.

É um livro muito necessário, que dá voz e força às vítimas, celebra amizades, sorodidade e um rede de apoio, e clama por justiça. As terríveis experiências que tantas de nós sofrem não nos derrubarão, e ninguém poderá calar nossa voz. Ao invés sempre culpar a menina, que tal olhar mais de perto aqueles que abusam de vulneráveis que não podem ou não saber que podem dizer não? Ao invés de ensinar as meninas a não beber, a não usar roupas curtas, a não andar sozinhas à noite, que tal ensinar seus preciosos filhos a não estuprar? 

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