*Resenha* A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

A trilogia Jogos Vorazes foi um marco na minha carreira de fangirl, então quando o novo livro foi anunciado, eu obviamente pirei. Saber que o livro focaria na juventude do Presidente Snow foi meio decepcionante, mas mantive meu otimismo.

A realidade é que esse livro me deixou bem dividida. Vi muita gente falando mal, e entendo essas opiniões. Colocar um personagem tão odiado como protagonista pode ser problemático, principalmente se o autor usar essa história de origem para justificar as ações futuras - e que nós já conhecemos.

Mas não achei que a Suzanne Collins tentou ir por esse caminho.

O livro segue o jovem Coriolanus em seu último ano de escola, que coincide com a décima edição dos Jogos Vorazes. Em uma tentativa de fazer o público mais interessado no espetáculo, a Capital decidiu que os alunos mais promissores da Academia serão mentores para os tributos. Coriolanus é escolhido para ser o mentor menina tributo do Distrito 12.

O que eu achei mais interessante nesse livro foi que é uma visão completamente diferente da visão de Katniss. Somos apresentados a uma Capital que ainda sofre com os efeitos da guerra, que terminou apenas dez anos antes. Aquela extravagância que vimos na trilogia não é realidade para todos, já que muitas famílias perderam suas posses durante a guerra. A própria família Snow tem apenas o prestígio de seu nome, mas nenhum dinheiro, e Coriolanus teve uma infância de escassez mesmo vivendo na cobertura luxuosa de sua família. A população da Capital culpa os Distritos pela violência, pelas mortes, e acredita que são superiores aos “animais” que causaram uma guerra sem sentido.

Os Jogos em si eram bem diferentes do espetáculo colorido e bem produzido da trilogia original. Os tributos eram tratados como animais selvagens, não havia cerimônia nem arenas bem projetadas.Ver como tudo era 64 anos antes de conhecermos Katniss foi bem interessante.

Coriolanus não foi um personagem com quem me afeiçoei em nenhum momento. Não só por ele ser o futuro Presidente Snow, mas por sua arrogância velada, sua superioridade e sua falsidade. Coryo - um apelido fofinho demais para alguém tão péssimo - é um ator talentoso, e sabe exatamente como agir e o que dizer para conseguir o que quer. Ele sabe o quanto é bonito e como ser charmoso, e analisa cada interação clinicamente, suas palavras sempre calculadas. Ele não é psicopata que mata animaizinhos e não sabe controlar sua raiva, ele simplesmente acredita que é melhor do que todos por ser um Snow e, quando percebe que isso não lhe dá proteção de verdade, ele decide que para não se tornar presa, ele deve se tornar predador.

Esse foi um dos motivos por sua relação com Lucy Gray Baird parecer meio forçada. A tributo do Distrito 12 é tão boa em mascarar seus sentimentos quanto Coriolanus, ela canta e dança pela Colheita em um vestido colorido, sorri e acena e encanta a todos. Aliás, como ela canta! Tem um milhão de músicas, algumas que foram interessantes para o contexto, mas várias que eu achei meio desnecessárias. Duas músicas presentes na trilogia original fazem aparições bem surpreendentes. Eu realmente esperava mais de Lucy Gray, apesar de ela ser inteligente, carismática e astuta, sem falar em engenhosa, no final eu senti um pouco de decepção com sua personagem em geral.

Em questão de personagens secundários, são poucos os notáveis. Tem um monte de nomes estranhos de jovens da Capital, alguns com quem Coriolanus tem amizades de infância, mas todos são inconsequentes para a história. Uma cientista maluca e cruel que é a chefe dos Idealizadores dos Jogos, o reitor da Academia que detesta Coriolanus por motivos misteriosos, a avó ultra nacionalista e a prima gentil – Tigris, que eu achei que teria alguma história incrível aí sobre ex estilista que faz uma aparição em A Esperança, mas não.

O único que se sobrepõe é Sejanus, que se mudou do Distrito 2 quando era criança e seu pai fez uma fortuna, e não concorda em nada com os Jogos e o tratamento dos Distritos e Tributos. Ele foi provavelmente meu personagem favorito, por sua ingenuidade e desesperança e coração gentil. As ações e as consequências dele tem peso na jornada de Coriolanus, um dos únicos que não esnobaram Sejanus na escola, e por isso é conhecido como o melhor amigo dele.

O livro tem várias reviravoltas que realmente me surpreenderam, principalmente da segunda para a terceira parte, que sai em uma tangente bem inesperada. Mas achei que fez sentido para que Coriolanus tivesse uma visão mais abrangente sobre Panem, e principalmente para que explicasse um pouco seu rancor com o Distrito 12 e os tordos. Algumas coisas se encaixaram de forma conveniente demais, no entanto, e isso me irritou um pouco. 

No geral, não foi uma história necessária, mas houve partes muito interessantes. Achei que o ritmo poderia ser melhor, pois há momentos bem arrastados até que algo aconteça. A ação é bem Jogos Vorazes, com mortes sangrentas e gráficas em uma sociedade brutal em que ninguém está a salvo, a menos que você seja a pessoa mais poderosa do país.

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