*Resenha* Loki: Where Mischief Lies

Um dos meus personagens favoritos da Marvel escrito por uma autora que eu adoro, o que mais eu posso querer? Mackenzi Lee trouxe um murder mistery no século 19 com o Deus da Trapaça como um detetive improvável, prestes a enfrentar um inimigo que pode ser mais astuto que ele próprio.

A história segue um Loki jovem, que é responsável por travessuras, mas nada realmente perigoso - para Asgard, claro. Em uma tentativa de descobrir o que fez seu pai Odin se tornar tão desconfiado de Loki, o Deus da Trapaça acaba perdendo sua melhor amiga, a feiticeira Amora.

Anos depois, Loki é enviado à Midgard para investigar uma séries de mortes misteriosas, possivelmente mágicas, e seu caminho se cruza com o de Amora novamente.

Quando Loki chega à Terra, ele não entende porque a sociedade que solicitou a investigação age como se ele não fosse confiável. Ele não sabe como os mitos nórdicos o pintaram como o Deus da Trapaça, um mentiroso vil que busca o caos. Loki sente-se ressentido com Odin pela constante desconfiança, e começa a pensar se vale a pena tentar ser heroico se todo mundo só vai vê-lo como um vilão.

A trama lida muito com a percepção dos outros versus a nossa percepção de nós mesmos, e se devemos - ou podemos - tentar fugir da percepção e expectativa alheia e nos tornar o que queremos, e o quão longe devemos ir para isso. Loki quer tanto ser visto como um herói que acaba criando situações em que atos heroicos sejam necessários.

Colocar Loki correndo por Londres no século 19 investigando mortes misteriosas foi uma ótima estratégia. Fãs da Marvel, tanto dos filmes quanto dos quadrinhos, sabem que o tempo funciona de forma diferente ao longo dos Nove Reinos, e não é exatamente linear. 

Na época em que Loki chega à Londres, morte era uma forma de entretenimento. Necrotérios recebiam visitantes que, boquiabertos, observavam os corpos dispostos em vitrines, como em um museu. Com a quantidade crescente de mortes desde 1854, os corpos eram transportados pela linha de trem Necrópole, que ia diariamente de Londres para o Cemitério Brookwood em Surrey, levando também as famílias dos falecidos. Algumas das melhores cenas de ação do livro acontecem a bordo do trem.

Juntamente a Loki na investigação estão os membros de uma sociedade secreta que monitora qualquer atividade que possa ser mágica ou alienígena. A líder é a Sra. Sharp, uma viúva forte e independente que sabe muito bem como é ser uma mulher em um campo de atividade que era considerado “masculino”. O membro que mais acompanha Loki é Theo, um jovem curioso que acaba conquistando um certo afeto do Deus da Trapaça, e até um pouco de confiança.

Theo foi um personagem bem interessante, e eu gostaria de ter visto mais dele. Loki não entende por que Theo é discriminado a ponto de ser preso e violentado por policiais por gostar de homens, e deixa claro que acha a Terra muito subdesenvolvida por isso. 

Loki é um personagem de gênero fluido e pansexual (há controvérsias quanto a ele ser bi ou pan, mas pelo que eu pude pesquisar, as maiorias das fontes o descreve como bissexual) , e a autora (que descreveu Loki como pan ao se pronunciar sobre esse livro) faz questão de enfatizar isso, sem que fique forçado, mas mesmo assim importante para o entendimento de quem Loki é. Ele divide roupas e sapatos com Amora, sente falta de pintar as unhas de preto quando está na Terra e demonstra interesse por Theo. Apesar de usar pronomes masculinos na história, ele próprio afirma que se sente confortável como homem ou mulher, pois existe como os dois. 

Eu gostaria muito de ver uma aventura de Loki como o personagem queer dos quadrinhos no MCU. Quem sabe a série do Deus da Trapaça nos traga isso na interpretação de Tom Hiddleston? Será que a Disney deixa?

Realmente gostei muito dessa aventura histórica dentro do universo Marvel. A escrita de Mackenzi Lee é, como sempre, impecável. Mesmo quem não conhece ou não curte o universo pode aproveitar a leitura. No Brasil, o livro foi publicado pela editora Excelsior.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

*Resenha* Carrossel Sombrio e Outras Histórias

*Resenha* Surrender Your Sons

*Resenha* Até o Fim do Mundo