*Resenha* Stay Gold
Eu estava bem animada para ler esse livro, com a premissa interessante e a capa fofinha, mas não demorou muito para eu perceber que há algumas coisas bem problemáticas na trama.
Pony está começando em uma nova escola e está animado para ser visto pelos colegas como um garoto comum, ao invés de sempre ser identificado como o garoto trans. Apesar de o medo de ser exposto estar sempre presente, ele consegue fazer amigos e até chamar a atenção de uma líder de torcida.
Georgia está no último ano e decidiu não namorar, após o término desastroso de seu último relacionamento. Mas ela não consegue tirar os olhos do garoto novo, o que pode ser um problema para sua reputação, já que é esperado que ela namora um atleta que as amigas aprovem.
O livro tem protagonismo trans e é #ownvoices, ou seja o autor Tobly McSmith também é trans. Como uma pessoa cis, não tenho direito de falar sobre como essa representatividade é tratada, mas vi muitas críticas negativas de leitores trans, sobre como traz algumas ideias noviças sobre a experiência trans. Indico dar uma olhada em resenhas que possam melhor entrar nesse assunto.
Pony tem uma vida familiar complicada, com seu único apoio vindo de sua irmã que está longe, a mãe relutante e o pai que insiste em chamá-lo por pronomes femininos. Ele se relaciona com a comunidade LGBTQIA+ e seu melhor amigo é ativista trans, que não entende o motivo de Pony querer se esconder. Ele pressiona Pony mais de uma vez e até para se falar com o amigo quando Pony se recusa a divulgar um link em suas redes sociais. Esse tipo de pressão é muito ruim para qualquer pessoa LGBTQIA+, afinal ninguém é obrigado a se assumir, e é a própria pessoa quem tem que decidir se e quando fará isso e para quem, principalmente se é uma situação de risco. Já Pony age como se qualquer menção de assuntos queer pudesse fazer automaticamente com que as pessoas descobrissem que ele é trans, e faz com que ele utilize vocabulário homofóbico e transfóbico pois acha que só assim “os caras” o veriam como um. Essas atitudes me irritaram, além de ele deixar seus antigos amigos - aqueles que o apoiaram - de lado.
Georgia é bem difícil de gostar, na minha opinião. Ela se importa tanto com sua reputação na escola que deixa de fazer coisas que a interessam, pois não cabe no seu papel de líder de torcida. Ela está sempre pensando nisso, em o que as pessoas irão pensar, em como isso ou aquilo vai acabar com sua reputação. Ela diz coisas bem horríveis quando Pony se assume para ela - ela pergunta se beijar Pony quer dizer que ela é lésbica - e fica insistindo em saber o “nome verdadeiro” dele, mesmo com Pony insistindo que esse é o nome verdadeiro dele.
Há uma situação que quase que magicamente faz com que todos aceitem Pony como um garoto trans. Seu melhor amigo volta a falar com ele, Georgia quer namorar com ele, até seu pai muda de opinião. Foi meio que um desfecho perfeito demais, tipo final de novela. Houve uma parte que eu achei que seria muito interessante, sobre um ator idoso que sempre escondeu que era gay, mas não foi à lugar nenhum.
No geral fiquei decepcionada com um livro que pensei que seria feel good e teria um romance fofo, pois não consegui ignorar as partes problemáticas e as personalidades chatas dos protagonistas. Não gosto de fazer resenhas negativas, mas dessa vez não teve jeito.
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