*Resenha* Surrender Your Sons

Recebi essa cópia digital adiantada como cortesia da editora Flux via Netgalley, para dar minha opinião honesta sobre a obra antes do lançamento. Tenho muitas coisas a dizer sobre esse livro, e a primeira delas é que é de tirar o fôlego.

De verdade, eu precisei de um tempo depois de terminar para respirar fundo e processar tudo o que eu tinha acabado de ler.

Sinopse:

“As férias de verão de Connor Major estão se tornando um pesadelo.

Suas notas no vestibular foram péssimas, o idoso para quem ele entregava refeições morreu, e quando ele se assumiu gay para a mãe ultra religiosa, ela o sequestra e o envia para uma ilha isolada. O destino final: Ministérios Luzes Noturnas, um acampamento de terapia de conversão que será seu novo lar até que ele "mude".

Mas os problemas de Connor estão só começando. No Luzes Noturnas, todos têm algo a esconder, desde os campistas até os "convertidos" da equipe e o estranho diretor do acampamento, e logo se torna claro que ninguém está a salvo. Connor planeja escapar, e levar os outros jovens sequestrados com ele. Mas primeiro, ele irá expor as verdades horríveis do acampamento pelo que elas são - e fechar o lugar.”

Connor Major se sente pressionado pelo namorado a se assumir para a mãe, que, sendo super religiosa, não aceita nada bem. Ela o manda a força para um acampamento de conversão, onde jovens são doutrinados aos padrões e papéis “tradicionais” de homem e mulher.

A história segue um ritmo acelerado de suspense, com várias situações misteriosas e personagens duvidosos. Grande parte da trama se passa em apenas 24 horas, mas são tantos acontecimentos e reviravoltas que é fácil esquecer que foi só um dia desde que Connor foi sequestrado de casa – com o consentimento da própria mãe.

Em Ministérios Luzes Noturnas – o nome do acampamento -, jovens de várias idades, inclusive alguns considerados crianças, são forçados a esconder quem são e aceitar com sorrisos a doutrina passada pelos odiosos e trágicos “monitores”.

Sim, trágicos é como eu definiria a maioria dos adultos nessa história. Nada justifica terapia de conversão, homofobia, crimes de ódio, mas não pude não sentir pena desses seres horríveis. Pena da mente limitada e pequena, da vida regida por hipocrisia e preconceitos, pena de alguém que claramente no conhece amor ou compaixão, e por isso nunca poderia ser pleno, e dessa forma não aceita que ninguém tenha a audácia de ser diferente. Pessoas que infelizmente ainda estão por aí, forçando seus filhos e filhas a serem quem não são, a se odiarem e odiarem aos outros, a viverem sentindo dor, se machucando, tirando as próprias vidas.

Esse é um testamento de como a escrita de Adam Sass foi poderosa. A história é comovente, muito bem contada, e me fez sentir tantas emoções. Raiva, medo, tristeza, pena, mas também esperança, pois não só pessoas odiosas que existem no mundo.

Os jovens do acampamento buscam força onde podem, se ajudam como conseguem, e utilizam do companheirismo para se manterem são. Alguns são mais hesitantes, alguns mais ousados, mas é claro que a necessidade por sobreviver e escapar, não só física mas mentalmente também, está presente todo tempo. Divididos entre pré-adolescentes, adolescentes e adultos, os campistas são um grupo diverso de gays, lésbicas, bissexuais, trans, aqueles que ainda estão em processo de descoberta, eu gostei muito de conhecer esses personagens fortes que lutam para serem aceitos por quem são, e dar uma espiadinha em quem eles podem se tornar com um pouco de liberdade.

Connor é a última peça para a liberdade. Ele conhece o diretor antes de chegar no acampamento, e isso mexe com rotina cuidadosamente estruturada do lugar. Buscando respostas para mistérios que o seguem, ele vai desconstruindo mentiras e revelando segredos. Seu maior desejo é voltar para seu namorado Ario, mas as experiências que ele vive são transformadoras e nada será igual. Ainda assim, a esperança que ele mantém para um futuro melhor é admirável, mesmo que às vezes fútil.

As reviravoltas e revelações são chocantes. Não só toda história do acampamento e do diretor, que é a grande revelação, mas também segredos de outros personagens e suas vidas, como o monitor Briggs, que foi um dos mais dignos de pena. Ele claramente foi vítima da lavagem cerebral quando foi campista a ponto de se tornar monitor, e em seus momentos vulneráveis é possível ver que ele só mais um garoto assustado que não sabe o que fazer ou como agir – o que não justifica violência. Ele provavelmente um dos personagens mais tristes que eu já vi, e participou de algumas das cenas mais duras e difíceis de ler.

Surrender Your Sons é um livro muito intenso. Eu adorei, talvez até por essa intensidade e pelos tópicos complicados, mas entendo que não é para todo mundo. Lida com LGBTfobia, crimes de ódio, suicídio, linguagem pejorativa, mas também é sobre resistência, luta, coragem e esperança. Há uma nota do autor antes da narrativa com avisos sobre possíveis gatilhos, o que eu achei muito prudente e acolhedor. Fiquei muito feliz que ter recebido essa cópia adiantada, e agradeço à editora, ao autor e à netgalley pela oportunidade de ler antes do lançamento, que está previsto para setembro de 2020.

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