*Resenha* Blank Spaces

Descobri esse livro no Goodreads, pesquisando livros com representação assexual, e a sinopse me deixou intrigada. Tenho um pouco de receio com essa temática, pois já me deparei com algumas leituras um pouco ofensivas, mas essa história da autora Cass Lennox trouxe uma representação com a qual me identifiquei muito, e me deixou até emocionada.

Sinopse:

“A decisão de parar de namorar deixou a vida de Vaughn Hargrave infinitamente mais simples: ele tem amigos, um guarda-roupas excelente, e um emprego na indústria que ama. Isso é tudo o que ele precisa, especialmente pois sexo não é o seu forte mesmo, e ninguém parece interessado em uma conexão puramente romântica. Mas quando uma obra é roubada da galeria de arte onde trabalha e o investigador de seguros Jonah Sondern aparece, Vaughn começa a questionar sua decisão.

Jonah quer seus homens como seu café: quentes, intensos e diários. Mas Vaughn parece ser o único cara em Toronto que não tem encontros, que é tudo que Jonah pode oferecer.  Não há como Jonah dar a Vaughn o que ele quer, não quando Jonah nem entende muito bem o que é amor.

Quando outra obra desaparece, a tensão aumenta. Vaughn e Jonah se veem lutando não apenas para encontrar a arte roubada, como para entender suas diferenças. Porque um cara que quer nada além de romance e um cara que quer nada além de sexo nunca dariam certo - certo? A não ser que eles encontrem uma forma de preencher os espaços entre eles.”

Vaughn é assexual homorromântico, ou seja, não sente atração sexual, apenas romântica, e apenas por pessoas do mesmo sexo. Jonah sai toda noite atrás de alguém – ou alguéns – novo. Eles se cruzam no trabalho de dia, e Jonah se sente imediatamente atraído por Vaughn, mas não entende como Vaughn pode nem lhe dar um sorriso além o profissional. Á noite eles se cruzam na balada, o causa uma situação constrangedora, já que Jonah estava acompanhado e Vaughn o pegou no ato.

Apesar disso, eles começam uma amizade hesitante, e Vaughn deixa logo claro que ele não pode dar o que Jonah claramente está procurando. Jonah não tem muitos amigos e não sabe muito bem como agir, principalmente quando ele se vê gostando de passar tempo com Vaughn. Por sua vez, Vaughn se questiona sobre sua assexualidade quando percebe que está se apaixonando por alguém que claramente não está interessado em nada além de sexo.

Com personalidades e objetivos diferentes, eles vão ajudando um ao outro a superar os obstáculos que os impedem de ficar juntos, e não quero dizer que Jonah cura Vaughn de sua assexualidade – infelizmente eu já vi algumas histórias assim, e me deixaram bem perturbadas. Eles passam a compreender os sentimentos um do outro e aceitar que isso faz parte de quem eles são.

Jonah não é arromântico – que não sente atração romântica – e ele confronta seus medos e inseguranças. Minha interpretação é que ele é de alguma forma viciado em sexo, já que mais de uma vez ele utiliza de sexo como uma muleta emocional, sente abstinência e por vezes não consegue parar de pensar nisso – mas até aí, como eu, assexual, entenderia a diferença?

O romance de Vaughn e Jonah é construído lentamente, eles nem percebem o quanto estão gostando um do outro até serem confrontados com isso. 

A parte do mistério do roubo de arte é colocado em terceiro plano, tanto que até esqueci sobre isso até a resolução acontecer. Em segundo vem os relacionamentos de Vaughn e Jonah com seus colegas de trabalho, amigos e, no caso de Vaughn, família. Apesar de não serem muito aprofundados, os momentos em que conhecemos as pessoas que cercam a vida dos dois nos dá um melhor entendimento de quem Vaughn e Jonah são.

A história traz muito sentimentos que eu mesma acredito, de que amor romântico e sexo não são interdependentes. É possível ter um sem o outro, e vice e versa, e é possível amar alguém romanticamente e ter uma vida sexual fora desse relacionamento – desde que todos estejam de acordo claro, senão é traição. Relacionamentos entre aces (assexuais) e allos (allossexuais, pessoas que sentem atração sexual) são possíveis quando há compreensão de ambas as partes.

Isso deixa muito claro o quanto representatividade é importante na mídia. Eu me senti compreendida lendo esse romance, da forma como nunca tinha acontecido antes. Já havia lido livros com personagens assexuais, mas nenhum capturou meus sentimentos como Blank Spaces. 

Felizmente, essa identidade tem ganhado um pouquinho mais de representatividade nos últimos tempos, inclusive incluindo uma personagem na série da Netflix Sex Education – chorei nesse episódio, só de ouvir e ver validação em uma mídia tão popular.

Cass Lennox tem mais três livros na série Toronto Connections, e eu pretendo ler todos, mas acho que vai ser difícil superar esse.

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