*Resenha* Ziggy, Stardust and Me
Jonathan vive pela música de David Bowie e seu Ziggy Stardust. Vivendo com o pai que bebe demais e só quer que o filho seja “normal”, Jonathan tem poucas coisas que o fazem feliz, além do Ziggy e de sua melhor amiga. Após um evento que marcou sua vida, ele agora faz terapia de conversão e sente os efeitos cada vez que pensa ou nota a beleza de algum garoto. O ano letivo está quase no fim quando Web chega na escola, com seus cabelos longos e seus tênis detonados. A atração quase instantânea deixa Jonathan em alerta, mas ele não consegue ficar longe.
A história se passa nos anos setenta, na época do escândalo estadunidense do Watergate, quando ser homossexual ainda era visto como uma condição mental, além de ser ilegal. Homens gays eram vistos como predatórios e devassos. Terapia de conversão, hospitalização forcada e prisão eram métodos para lidar com os “perigos da homossexualidade”, utilizando de todo tipo de “terapias” – como eletrochoque, imersão em gelo e até lobotomias – para curar aqueles que se encaixavam no diagnóstico – e era um diagnostico real, até um passado muito recente.
Jonathan realmente acredita que sua atração por homens é uma doença e que ele pode ser curado, e se dedica ao tratamento da terapia de conversão, incentivado pelo pai, que só quer que o filho fique “bem” para que eles possam enfim ser felizes. Sem a presença da mãe que morreu no parto, Jonathan tem apenas as lembranças da avó para lhe dar apoio, já que o pai passa a maior parte do tempo bebendo e correndo atrás de mulher, e não tem conexão nenhuma com o filho.
Os momentos em que Jonathan participa das sessões de terapia são de partir o coração, especialmente por ele querer tanto ser “curado”. É horrível ler o nojo que ele sente de si mesmo, pois foi o que ele aprendeu sobre homens como ele. Eu chorei por Jonathan se aceitar, se amar, mas como é possível se tudo ao seu redor diz que você está errado?
Felizmente Web entra na história, e ele abra algumas portas que Jonathan nem sabia que existiam. Vindo de uma realidade totalmente diferente de Jonathan, Web enfrenta sua batalha por ser indígena. O preconceito está muito presente, de uma forma muito atual também, em que a população branca toma terras indígenas e mata indiscriminadamente, enquanto os povos indígenas são vistos como selvagens. Essa é uma realidade presente no Brasil também.
Tanto Jonathan quanto Web sofrem com os sentimentos que nutrem um pelo outro. Jonathan rejeita a atração, força a terapia e se decepciona cada vez que sente aqueles choques que indicam que seus pensamentos são errados. É um longo caminho até ele confiar em Web e abraçar o que eles têm.
O crescimento dele é bem incrível. É quase uma metamorfose, como os pensamentos dele se tornam mais claros conforme ele aceita seus sentimentos por Web. Ele reconhece a influência negativa que seu pai, sua terapeuta e toda a sociedade exerceram sobre ele a vida toda, o que o levou a se odiar, a buscar apoio no seu imaginário por meio de Ziggy Stardust - que age como consciência e confidente.
Essa é uma história que precisava ser contada e merece ser lida. É sobre autoaceitação, amor-próprio, correr atrás da própria verdade e ser livre ao viver. O amor vence na história de Jonathan, pois ele aprende a se amar e a ser amado.
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