*Resenha* Cemetery Boys
Para começar o mês de Halloween, este foi um dos novos lançamentos mais esperados do ano, e valeu a pena! Há protagonismo queer, trans e latinx, relações familiares, incrível mitologia latina e uma adorável história de amor.
A família de Yadriel faz parte da comunidade brujx, o que significa que eles são abençoados pela Senhora Morte e podem ver e falar com espíritos. As mulheres têm poderes de cura e os homens ajudam os espíritos a cruzar para o além, e Yadriel só quer ser aceito como o brujo que é. Sua comunidade não sabe como lidar com o fato de ele ser transgênero, então Yadriel resolve lidar com o problema com as próprias mãos e pede a bênção da Senhora Morte para si mesmo. Com a ajuda de sua prima e melhor amiga Maritza - que também é meio pária na comunidade por ser vegetariana -, Yadriel invoca um espírito que acredita ser seu primo desaparecido Miguel, mas descobre que o fantasma é na verdade Julian , o bad boy da escola. Julian quer saber o que aconteceu com ele e checar que seus amigos estão bem, e Yadriel não tem escolha a não ser ajudá-lo. Quanto mais tempo eles passam juntos procurando a verdade, menos Yadriel quer que Julian vá embora.
A história é sobre família, comunidade e sobre confiar em si mesmo e conhecer seu valor. Yadriel sabe quem ele é e o que pode fazer, mas ele quer que sua comunidade, sua família, o apoie e ame por quem ele é. Sua amizade com Maritza é ótima, a maneira como eles se protegem, aconteça o que acontecer. Ela é uma das únicas que aceita Yadriel de forma incondicional e acredita que os outros estejam errados em deixar Yadriel de fora.
Também há questões sobre o binário da comunidade brujx: nunca houve pessoas que não se encaixassem no "brujo e bruja" antes de Yadriel? Como a comunidade lidou com eles? Eles foram expulsos ou pressionados para se encaixar? Ninguém parece ter respostas, e ninguém parece saber o que fazer com Yadriel, que teme que, como um garoto trans gay, ele nunca encontrará seu lugar na comunidade que ele tanto ama.
Então há Julian, o cara durão cercado por rumores, que na verdade é um menino divertido, apaixonado por aventuras, protetor de seus amigos - que ele considera sua família -, um grupo de jovens queer sem família ou casa. Há uma crítica social sobre como a sociedade americana vê a comunidade latinx, com jovens latinx desaparecendo sem que ninguém investigue, famílias sendo deportadas e separadas, o descaso e o medo infundado com que as pessoas da comunidade latinx são tratadas.
A mitologia é muito interessante. A família de Yadriel vive na entrada do cemitério, que está cheio de espíritos, especialmente as vésperas do Dia dos Mortos, em que os espíritos dos brujx podem voltar ao mundo dos vivos e reencontrar seus familiares. Eu gostei muito como essa parte foi explorada, citando lendas e rituais antigos, passando conhecimento de geração a geração.
Os personagens se comunicam em espanhol em alguns momentos, o que para nós que falamos português é tranquilo de entender, e dá mais realidade à história.
O romance é lento e bem construído, afinal, metade do possível casal é um fantasma, e a forma como isso vai se desenrolando é muito boa.
O livro cobre temas de família, tanto de sangue quanto a que escolhemos, sexualidade e identidade de gênero, discriminação da comunidade latinx nos EUA, tudo com incrível mitologia e fantasia, personagens carismáticos e um mistério de tirar o fôlego.
Esse é mais um livro #OwnVoices, ou seja, o autor Aiden Thomas é queer, trans e latinx, assim como Yadriel. Espero que seja lançado no Brasil em breve, é uma história muito divertida e cheia de temas importantes, além daquela dose especial de fantasia paranormal.
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