*Resenha* House In The Cerulean Sea

Desde que descobri T. J. Klune em abril passado, li exatamente sete de seus livros e atualmente estou no oitavo. Se há uma coisa que aprendi ao ler seus livros, é que, sem dúvida, haverá os personagens mais incríveis já escritos. Os belos personagens, a premissa criativa e tudo o que sublinha a história foi o que fez de House in The Cerulean Sea uma das minhas leituras favoritas do ano.

Linus Baker é assistente social do Departamento Encarregado da Juventude Mágica - DICOMY - e, nos últimos anos, seu trabalho é inspecionar orfanatos para crianças mágicas, escrevendo relatórios sobre a maneira como as crianças são alojadas e tratadas. Quando a Alta Administração Suprema o envia em uma missão secreta, Linus não espera se encontrar em uma pequena cidade perto do oceano mais azul que ele já viu. O orfanato está localizado em uma ilha e abriga os casos mais problemáticos que DICOMY tem: um gnomo de jardim feminino, um duende da floresta adolescente, um metamorfo, um wyvern – um tipo de dragão -, uma bolha amorfa e o anticristo. Linus tem um mês para investigar e escrever um relatório completo sobre as condições do orfanato e sobre o mestre do orfanato, o intrigantemente encantador Sr. Parnassus. Linus sabe que seu trabalho exige objetividade, mas este caso pode ser mais do que ele pode suportar.

A história é um lindo conto de família encontrada - um dos meus tropos favoritos – e ao mesmo tempo aborda temas sérios, como preconceito, segregação, registro, e como isso afeta as crianças.

Pessoas mágicas são tratadas como de segunda classe e as crianças nos orfanatos crescem acreditando que são, na verdade, de segunda classe, pois é isso que elas aprendem. Órgãos públicos como a DICOMY usam a burocracia para manter as coisas como estão, ao mesmo tempo que incitam a segregação com pôsteres do tipo “veja algo, diga algo” por toda parte. Crianças mágicas crescem ouvindo que são monstros, não são naturais e não deveriam existir, até que deixam de ser crianças e se tornam o que disseram para ser. Mas enquanto eles ainda são crianças, eles não deveriam ser protegidos? Eles não podem escolher o que são, ou as famílias em que nasceram. Devemos culpar as crianças simplesmente por terem nascido do jeito que nasceram? Devemos julgá-los antes mesmo que tenham a chance de formar suas próprias personalidades, seus traços, suas ideias e sonhos, de se provar?

As cinco crianças que Linus encontra no orfanato da ilha Marsyas são adoráveis em seus jeitinhos particulares, e é impossível não lembrar o tempo todo que, mesmo quando estão ameaçando enterrar alguém no jardim – Talia, a gnomo de jardim – ou terríveis torturas – Lucy, o anticristo de seis anos de idade -, eles são apenas crianças, e deve, ser tratadas e protegidas como tal.

Linus sempre fez seu trabalho com objetividade, seguindo as regras ao pé da letra, sem nunca perceber que as crianças nos orfanatos que ele inspecionava um dia cresceriam e iriam para o mundo, onde seriam tratadas com suspeita, medo e nojo. A cabeça dele vai abrindo conforme convive com os moradores da ilha Marsyas e conversa com Arthur Parnassus, que pode ser mais do que aparenta.

As interações de Linus e Arthur são adoráveis. Eles são dois homens de uns 40 anos, cada um solitário do seu jeito, Linus rabugento, desconfiado e ingênuo, e Arthur sorridente, confiante e atento. Apesar do romance ser leve e ter pouco espaço, é o suficiente para que seja bem desenvolvido. 

O livro encerra com esperança de mudanças no sistema, e seria incrível se houvesse uma continuação a caminho. T. J. Klune lançou três livros esse ano, então sempre podemos esperar coisas maravilhosas dele no futuro – inclusive no próximo mês trarei resenha da série Green Creek, que é o melhor tipo de romance/drama sobrenatural cheio de clichês.

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