*Resenha* The Henna Wars
Você está procurando uma história de amor sáfica que trate de sexualidade, questões culturais, religiosas e familiares e que tenha uma mensagem de aquecer o coração? Então não procure mais, pois este livro da autora Adiba Jaigirdar é para você!
Nishat é bengali e mora em Dublin com os pais e a irmã. Apesar de estar cercada por uma comunidade bengali na cidade, Nishat sempre se sentiu à parte, talvez pelo preconceito que sofre na escola para meninas que frequenta ou porque acabou de perceber que seu futuro pode não ser o futuro bengali perfeito que seus pais planejaram - ela é lésbica, o que não é aceito em sua cultura. Depois de se assumir para seus pais, Nishat está chateada com a reação deles, mas isso não a impede de sair com a bela Flavia, a nova garota na escola que por acaso é prima da garota que faz bullying com Nishat. Quando elas têm que criar uma ideia de negócio para uma aula, Nishat decide pegar sua paixão por sua cultura e começar um negócio de henna, para decorar as mãos das mulheres com belas artes de henna. Só que ela não é a única a pensar nisso: Flávia decide fazer o mesmo, mesmo que não faça parte da cultura dela - Flávia é brasileira-irlandesa. Elas se tornam rivais de negócios, o que ameaça destruir o romance que estava florescendo entre elas, especialmente quando Flavia parece não entender o conceito de apropriação cultural e como isso é prejudicial para uma cultura.
Eu gostei muito deste livro. Tanto Nishat quanto Flavia são estrangeiras, ainda que Nishat sinta isso mais intensamente por ser completamente excluída da turma popular, o que não acontece com Flavia - que é negra e brasileira - por ser prima da garota mais popular da escola. Nishat é criticada pela cor da pele, a maneira como seus pais se vestem, a comida típica bengali ... e ela sente que nunca pode reclamar com ninguém. Principalmente depois de se assumir para os pais, que parecem pensar que ignorar a situação vai fazer com que ela vá embora.
Sua maior aliada é sua irmã mais nova Priti, que a apoia e a ajuda sempre, talvez por estar mais ou menos na mesma situação. Nishat e Priti são muito leais uma a outra, e essa lealdade é colocada à prova ao longo da história, assim como a força da família e do amor que sentem um pelo outro.
As amizades de Nishat também são questionadas. Suas melhores amigas não entendem a irritação de Nishat por Flavia querer fazer um negócio de henna, não conseguem entender por que ela não pode deixar para lá e escolher outra coisa. Não entendem que Nishat está lutando contra algo que transforma sua cultura em fantasia de halloween para que pessoas brancas possam ganhar dinheiro em cima de algo que eles acham “exótico”.
Apropriação cultural é algo que tem sido discutido bastante nos últimos tempos e ainda é preciso muito para que as pessoas entendam que Cocar de índio não é fantasia de carnaval, nem quimono nem turbante, e que as pessoas não são “sensíveis demais” e “cheias de mimimi” quando você desrespeita e transforma em piada a cultura dos outros.
O livro lida com isso lindamente. Nishat é decidida, forte e articulada, sabe exatamente o que quer e como se expressar para ser ouvida. Mesmo que algumas pessoas finjam que não ouvem, outras escutam e passam a entender e até admitem seus erros. Isso vale tanto para a questão da apropriação cultural como com a questão de sua sexualidade.
A história também traz discussões sobre estar longe de seu país e da sua cultura, e como isso pode causar confusão em uma pessoa. Flavia mais de uma vez fala sobre como não tem contato com a cultura brasileira, se perguntando se pode mesmo de chamar de brasileira quando só pisou no Brasil algumas vezes, se quase tudo o que sabe é o que lhe contaram, não o que viveu. Ela se sente dividida entre a família do pai irlandês e como ela, uma menina negra, se encaixa. Além disso, sua prima branca - chamada China - parece ser racista com Nishat, ao mesmo tempo que não tem problema nenhum com Flavia por ser negra.
São tantos pontos de discussão, e todos são apontados de forma incrível. Indico muito essa leitura pelo conjunto todo, Nishat é uma protagonista maravilhosa e Flavia é o tipo de pessoa que se permite aprender e crescer, então não tem como não se apaixonar por ela - assim como Nishat. Terminei o livro com um sorriso de orelha a orelha.
Comentários
Postar um comentário