*Resenha* Os Artifícios das Trevas – Dama da Meia Noite
Cassandra Clare
564 páginas
Editora Galera Record

Os Caçadores de Sombras estão de volta, para minha alegria! Sou grande fã dos livros da Cassie Clare, tanto da série Os Instrumentos Mortais como As Peças Infernais, como os outros livros das Crônicas dos Caçadores de Sombras, e estava bem animada para ler o volume inicial da nova série, Os Artifícios das Trevas.

Começarei dizendo que já tinha gostado das crianças Balckthorne em Cidade do Fogo Celestial, apesar de não ter sido possível conhecê-las muito bem nos pequenos trechos em que elas e Emma Carstairs aparecem.

A nova série é focada neles e se passa cinco anos depois do volume final de Os Instrumentos Mortais. As crianças cresceram, Julian e Emma agora com 17 anos, tendo passado tempos difíceis depois da morte dos pais.

Apaixonei-me por Julian logo de cara. Ele é, na minha opinião, a alma desse livro. Tudo o que ele fez e disse para manter a família unida, a forma como ele sacrificou a própria adolescência para cuidar dos irmãos mais novos, mostra que ele é um tipo diferente de protagonista, comparado aos que vimos até agora. Foi ele quem viu a critura que um dia foi seu pai tentar matar um de seus irmãos mais novos, e foi ele quem teve que matar o pai para proteger sua família. Ele não só vê os irmãos mais novos como sua responsabilidade, ele as vê como seus próprios filhos. "Minhas crianças", ele se referiu, mais de uma vez. "Gostaria que eles fossem meus filhos". Lembrando que Julian tem apenas 17 anos.

Emma, por outro lado, é mais parecida com Jace e Will, o que é uma ligação interessante considerando o passado entrelaçado das famílias Herondale e Carstairs - o que, com a presença de Jem e Tessa em algumas partes da trama, será muito lembrado. Ela está disposta a ser a melhor Caçadora de Sombras que ela pode ser, e se esforça constantemente para isso. Assim como os garotos Herondale, Emma é sarcástica e destemida, e tem um lado gentil e romântico dentro de si. O objetivo dela desde os 12 anos é descobrir quem assissinou seus pais e se vingar do assassino.

O relacionamento de parabatai - que é quando dois Caçadores de Sombras são unidos por uma Marca que os permite proximidade física e emocional e que possibilita que eles lutem como um só - entre Julian e Emma causa conflito, claro, quando eles percebem que estão apaixonados um pelo outro, o que é terminantemente proibido pela Lei da Clave. Emma descobre, mais para o fim do livro, que essa proibição tem um motivo maior do que simplesmente uma birra da Clave – vamos concordar, a Clave tem um monte de leis bestas, como a que não permitia que os Nephilim tivessem relacionamentos amorosos com membros do Submundo (que bom que essa já se foi, senão não teríamos Magnus e Alec).

Adorei as crianças, apesar de não serem totalmente exploradas. Felizmente, teremos mais livros para entrarmos mais no mundo de Ty, Livvy, Dru e o pequeno Tavvy.

Quem faz um retorno não tão triunfal para o âmbito da família é Mark, o meio-irmão fada dos Blackthorne que tinha sido levado pela Caçada Selvagem para o Reino das Fadas - ao final de Cidade do Fogo Celestial, é instituída a chamada Paz Fria, que impede a Clave e os Membros do Submundo de interagirem com o Povo das Fadas. Além de Mark ser "abandonado" pelos Nephilim, a irmã mais velha, Helen, é exilada, e vive com a esposa Aline em uma ilha isolada da família.

Mark é um mistério. Ele não envelheceu ao longo dos cinco anos, ao contrário dos outros, e é extremamente traumatizado por tudo que lhe aconteceu no Reino das Fadas. O primeiro encontro dele com os irmãos é comovente, e gostei muito do relacionamento dele com o príncipe da fadas, Kieran, por mais turbulento que seja. Estou ansiosa para conhecer mais sobre ele.

Outra personagem que eu adorei foi Cristina, a "intercambista" da Cidade do México que está passando um ano no Instituto de Los Angeles. Ela é incrível, a voz da razão em muitas situações, o ombro que Emma precisa para chorar, Cristina consegue ser a amiga que qualquer um pediu ao Anjo, sem julgamentos, sem desmerecer o sofrimento alheio, sem se colocar como centro de tudo. Ela tem seus próprios problemas, mas isso não a impede de ser badass o tempo todo.

Diana e tio Arthur não fizeram diferença na história, na minha opinião. Ainda não sei quem a tutora dos Blackthorne é na trama, espero que ela seja mais explorada posteriormente. Arthur Blackthorne só serve para que Julian apareça  ainda mais como o garoto que teve que crescer rápido demais e sacrificou tudo pela família, mas fora isso ele não tem muito impacto - ou espaço - na história. O Alto Feiticeiro de Los Angeles, Malcom Fade, também não me impressionou.

O grande vilão do livro tem uma motivação um tanto... fraca. Eu achei fraca, pelo menos, não por não ser uma motivação convincente, mas por que achei clichê, esperava alguma coisa mais genial. Apesar de a investigação dos Blackthorne se desenrolar de forma surpreendente.

Os nossos velhos favoritos, Clary, Jace, Magnus, Jem e Tessa, fazem pequenas mas significativas aparições, tanto em flashbacks como em cenas em tempo real. O capítulo extra mostra um pouquinho de como estão as vidas destes personagens cinco anos após o final de Cidade do Fogo Celestial, e me deu saudade de todos eles.

Lembro de ter lido uma resenha antes de ler o livro em si que dizia que havia uma revelação bombástica no final. Eu fui lendo, inocente, e fiquei procurando a grande revelação. Já tinha até desistido, até que BAM, revelação bombástica cercada de mistérios me atinge em cheio na cara. É uma surpresa, bem no finalzinho mesmo, que me deixou confusa de um jeito bom, com vontade ler o próximo e descobrir o que vai acontecer a partir de agora.

Ou seja, Cassie Clare, quero o próximo livro agora.

E também quero The Last Hours, o próxima série das Crônicas dos Caçadores de Sombras, que se passa depois de As Peças Infernais - lá pelo ano 1905, cerca de 25 anos após Princesa Mecânica -, e que tem previsão de lançamento para 2017, após o lançamento do segundo volume de Os Artifícios das Trevas.

Gostaria também de aproveitar para elogiar Cassandra Clare por incluir diversidade em seus personagens - apesar de que ainda precisamos de um protagonista, de fato. Temos casais como Helen e Aline e Magnus e Alec, que sofreram preconceito por serem casais do mesmo sexo, Magnus e Alec também por serem um feiticeiro e um Nephlim. Temos Mark, que é abertamente bissexual, o que não é exatamente aceito pela Clave, mas completamente normal no Reino das Fadas. Temos Tiberius, quem Julian teme que será tratado diferente por ser autista, e os Caçadores de Sombras são uma sociedade um tanto arcaica quando se trata de pessoas que pensam ou agem de forma diferente. Temos Cristina Rosales, Diego "Perfeito" Rosales, Raphael Santiago, Maia Roberts, Lily Chen, o próprio Jem Carstairs, que são latinos, negros, chineses, pessoas de todas as nacionalidades e origens que fazem parte do mundo real, e deveriam ser representados em todas as mídias. O mundo não é feito de brancos, hetorossexuais, e estado-unidenses, afinal.

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