*Resenha* Série The Seafare Chronicles

Alguém aí com saudade de me ouvir panfletar o T. J. Klune? Não? Sem problemas, mas vou panfletar mesmo assim!

Essa série de quatro livros tem como tema principal, assim como a maioria dos livros que eu já li do autor, relações familiares, e não necessariamente de sangue. Ao longo da série, vemos os personagens crescendo, se aceitando, lutando por seus ideais e se mantendo fortes juntos.

💜Bear, Otter and the Kid

💜Who We Are

💜The Art of Breathing

💜The Long and Winding Road

As capas são bem sem graça - com certeza são melhores do que as capas originais, que eram péssimas! -, mas não se deixem levar por isso, pois as histórias valem a pena. 

Derrick – aka Bear – McKenna tinha quase 18 anos quando sua mãe simplesmente foi embora, deixando-o para cuidar do irmão de 6 anos Tyson – aka the Kid. Bear tem que se virar para criar a criança, desistindo da faculdade pelo amor ao irmãozinho, e conta com a ajuda de seus amigos e das famílias deles. Além disso, Bear precisa lidar com os sentimentos confusos pelo irmão mais velho do seu melhor amigo, Oliver – aka Otter – Thompson.

Os dois primeiros livros são narrados por Bear e, assim como os outros protagonistas de T. J. Klune, sua voz é muito divertida e ao mesmo tempo passa muita sensibilidade. Ele não é o cara mais esperto e sabe disso, se apoiando em seus amigos e até em seu irmãozinho quando necessário. Bear tem vários problemas não resolvidos por conta da negligência da mãe, e por isso é muito protetor de Tyson – aka the Kid -, abrindo mão de qualquer coisa pelo garoto. Seus sentimentos por Otter são complicados especialmente por sua homofobia internalizada, e mesmo depois que eles ficam juntos ele questiona sua sexualidade por anos.

O terceiro livro é narrado por Tyson, agora um jovem adulto, lidando com as mudanças que a vida adulta traz, principalmente para alguém que sempre teve que crescer rápido demais. É engraçado o quão parecido com Bear ele é – ele várias vezes observa isso, com certo desgosto e admiração ao mesmo tempo -, e mesmo assim o quão diferente eles são. Ty não está em momento muito bom em sua vida e é interessante ver um personagem que antes era apresentado como uma criança otimista, inteligente e decidida, agora como um jovem adulto que duvida de si mesmo e de sua capacidade.

No quarto e último volume, voltamos para a narração de Bear seguindo os acontecimentos do livro anterior. Bear e Otter estão prontos para expandir a família, mas não contavam com as surpresas que viriam pelo caminho. Esse foi um volume muito emocionante pois os personagens estão tão crescidos, tão mais velhos, mas ao mesmo tempo ainda são tão bobos quando eram lá no começo – a cena em que Bear e Otter decidem ter uma noite em um hotel para “manter a chama acesa” é hilária -, e ver o quando eles evoluíram é incrível.

Novamente com T. J. Klune, os personagens são incríveis, hilários, carismáticos e não escapam de falhas. Bear me irritou com sua homofobia internalizada no começo, assim como a linguagem que Creed – o melhor amigo e irmão de Otter – usa várias vezes, mesmo sabendo que Otter é gay. A narração de Bear as vezes saia em umas tangentes que, por mais engraçadas que fossem, uma hora começou a me incomodar, por serem muito aleatórias – mas isso é uma característica do personagem, ele desenvolve cenários complexos na cabeça e de repente diz algo que ninguém entende. Tudo isso é apontado por outros personagens ao longo da história, o que prova que o autor sabe exatamente o que está fazendo quando colocar cada ponto na narrativa – quem aponta a linguagem homofóbica de Creed é Tyson, que com seus nove anos de idade é mais inteligente que a família inteira. 

Há vários tópicos de discussão ao longo da série, como sexualidade, família, trauma, abuso e abandono. Um dos pontos que mais é citado é que abuso nem sempre deixa marcas visíveis, violência nem sempre é física, mas não deixa de ser agressão mesmo assim. Os personagens são obrigados a enfrentar seus medos e traumas uma hora ou outra, e admitir que houve abuso nunca é fácil para a vítima. 

Romance sempre está presente, mas eu não vejo como um ponto principal. Na minha opinião, essa série é realmente sobre família, seja de sangue ou a que escolhemos, e a importância de ter um sistema de apoio para ajudar, tanto nos momentos ruins quanto nos bons. Claro que a história de amor entre Bear e Otter é essencial, mas mais do que a jornada até ficarem juntos, o que importa é o que acontece depois, como eles enfrentam a vida juntos, tomam decisões, fazem escolhas. Por isso também que digo que é uma história sobre família.

Vale dizer que personagens queer não faltam nessa série, senão não seria T. J. Klune.

A série se interliga em alguns pontos – principalmente no terceiro volume – com outra série do autor que eu ainda não li, mas que parece muito boa também e pretendo ler em algum momento.

Infelizmente, os livros não foram publicados no Brasil, mas sou a favor de fazer barulho para que alguma editora traga esse autor incrível para nós!

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