*Resenha* Meninas Selvagens

Esse livro é uma leitura intrigante do começo ao fim, e eu estava curiosa há bastante tempo, tanto é que comprei a edição em inglês – logo antes de ser anunciada a edição em português pela Galera Record, e que depois foi enviada pelo Turista Literário.

A história é cheia de mistério, especialmente pois as personagens principais também estão no escuro quanto à situação real. A escola para meninas na Ilha Raxter está em quarentena por tempo indefinido após uma misteriosa doença se espalhar. A epidemia matou professores e alunas e causou modificações biológicas em toda vida da ilha, incluindo animais e plantas. As sobreviventes precisaram se adaptar aos novos tempos, já que o exército as mandou esperar até que uma cura fosse encontrada, e entre treinamentos de armas e racionamento de comida, a vida segue sem muitas perspectivas. Hetty e Reese precisam quebrar a quarentena e enfrentar o desconhecido da ilha quando Byatt desaparece, e elas descobrem verdades terríveis.

Eu gostei muito da história, mas tive um pouco de dificuldade de me conectar com Hetty, a narradora principal. A narrativa parece um pouco rasa de início, com um começo já cheio de conflitos entre todo mundo, mas vai se desenvolvendo de forma interessante. Na minha opinião, a história em geral é mais interessante do que a vida das personagens antes da Tox – a doença misteriosa -, e é nisso mesmo que a narrativa foca. O que acontece antes do livro começar é de pouca importância, já que os eventos da epidemia transformaram as meninas completamente – mental e fisicamente. 

A Tox causa morte em algumas pessoas e mutações grotescas em outras. Algumas meninas desenvolvem membros extra ou alguma modificação em apenas uma parte do corpo, e nenhuma se repete. Além de conviver com as constantes erupções e sintomas, as meninas viram colegas e professores morrerem de formas terríveis, e precisaram amadurecer depressa. Decisões difíceis, segredos necessários, irmandade com condições, elas aprenderam a proteger o grupo mas o instinto animal diz “cada uma por si”.

Quando Byatt desaparece, Hetty não pensa duas vezes: ela precisa encontrar a amiga, mesmo que isso signifique quebrar a quarentena e colocar todas em risco. Em diversas ocasiões, personagens tem que escolher entre proteger as outras ou salvar a si mesma, e são nesses momentos de tensão que elas mostram quem realmente são. Achei muito interessante como a autora conseguiu mostrar esse lado animal e instintual mesmo dentro de uma sociedade estruturada, e como o desespero toma conta.

O mistério permanece ao longo do livro, cada nova informação só aumentando a tensão e a confusão, o que pode ser ótimo para algumas coisas e frustrante para outras. Os capítulos do ponto de vista de Byatt traz um pouco de clareza necessária para que não ficasse cansativo ver Hetty e Reese encontrarem obstáculo atrás de obstáculo e fazer descoberta atrás de descoberta, sem muita explicação. 

O relacionamento de Hetty e Reese é um pouco confuso, mas acho que isso acontece mais por não conhecermos tão bem as personagens para entender o que elas sentem uma pela outra – até elas ficam confusas. Mesmo assim, representatividade sáfica nunca é demais!

O final é inesperado e ao mesmo tempo é óbvio, de uma forma que te faz gritar de frustração por acabar daquele jeito. Não sei se amei ou se odiei, e acho que nunca vou decidir!

De qualquer forma, eu fiquei bem impressionada com a escrita da autora Rory Power e seu poder de conduzir a narrativa sem entregar a trama. Com certeza vou querer ler os outros livros dela!

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