*Resenha* The Invisible Life Of Addie La Rue

Assim como muitos fãs de V. E. Schwab, eu estava ansiosíssima pelo livro que a própria autora disse ser o livro da sua vida, que ela demorou 10 anos para escrever e que finalmente viu a luz do dia.

Dá para entender pela maturidade da história e dos personagens como esses anos de escritas e edições moldou a história. Também é possível perceber como os outros livros da autora ao longo dos anos foram essenciais para a criação de Addie La Rue e sua narrativa.

Victoria Schwab tem personagens muito complexos. Uma de suas marcas é o caráter duvidoso e a área cinza entre herói e vilão, entre vítima e agressor. Nenhum personagem dela é uma coisa só, nenhum pode ser definido por um único adjetivo. Esse livro mais uma vez se aprofunda nisso, trazendo uma protagonista que ao longo de 300 anos fez de tudo, passou por tudo, e luta a cada dia para manter a sanidade.

Addie era jovem quando rezou aos deuses pedindo mais tempo e mais liberdade. Quem respondeu lhe concedeu seu desejo, mas nada vem de graça. Addie viverá para sempre sem nunca deixar uma marca. Ninguém que a conhece se lembrará dela assim que a perder de vista, ela não poderá escrever ou desenhar para mandar mensagens, não poderá manter nada nem ninguém em sua longa vida. Addie passa por mais bocados enquanto se adapta à sua condição, até que um dia encontra um rapaz que consegue se lembrar dela.

A velha história de “cuidado com que deseja” e a expressão “vender a alma ao diabo” tomam proporções novas aqui. Addie vive de roubos e esquemas, tentando desesperadamente manter-se sã e livre, já que não é possível manter mais nada. Sua única constante é a Escuridão, o ser que lhe concedeu seu desejo, que a visita de tempos em tempos tentando receber o pagamento.

Por conta disso, eles criam uma relação de ódio e amor, um desespero por conexão e companhia, ao mesmo tempo que detestam tudo o que o outro representa.

Há uma certa poesia na forma como a narrativa se desenvolve, sem nunca glorificar o relacionamento de Addie com um ser mais poderoso que a tem como refém. É claramente uma relação abusiva disfarçada de afeição e amor, e Addie tenta se libertar diversas vezes.

Em um desses momentos ela conhece Henry, que por algum motivo se lembra dela. Intrigada, ela finalmente vê uma esperança de felicidade, de uma conexão de verdade. Mas Henry tem seus mistérios e segredos também.

Gostei muito da história de Henry e dos personagens ao redor dele. Alguns capítulos se passam pelo ponto de vista dele e é interessante ver como ele é Addie podem ser parecidos e ao mesmo tempo muito diferentes.

Addie é a personagem mais complexa da autora, na minha opinião - o que é dizer muito, vindo de alguém que criou Victor Vale e Eli Ever da série Vilão e August Flynn da duologia Monstros da Violência. Ela anseia por liberdade sem saber exatamente o que isso significa, ela luta por sanidade pois sabe que a alternativa é uma eternidade de loucura, ela é teimosa e sabe que está sendo punida por seus desejos, e não vai abrir mão da vida que custou tão caro. Eu gostei muito de ver os momentos de fraqueza dela, as decepções, e como ela se levantava novamente com ânimo renovado. Ela é engenhosa e criativa e descobre formas de burlar as regras de sua condição, mesmo de forma sútil, como atos de rebeldia.

Na superfície, o livro parece conter uma história simples e até mesmo batida. Mas é uma narrativa intensa e que nos faz pensar sobre a condição humana - o que nos torna humanos - e sobre os sacrifícios que às vezes nos fazem perder noção do certo e do errado.

Se você já conhece o trabalho da autora, com certeza vai adorar esse livro. Se você ainda não leu nada dela, com certeza vai adorar esse livro também!

Os livros da autora sob o nome de V. E. Schwab são publicados no Brasil pela Record, espero que logo logo esse também seja lançado por aqui - se bem que os livros dela estão chegando bem atrasados para os leitores brasileiros 🤷‍♀️

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