*Resenha* Graça e Fúria

Com um título como esse e essa capa linda, Graça e Fúria, da autora Tracy Banghart, me deixou intrigada. A premissa é interessante, com um governo totalitário e uma sociedade machista, tinha tudo para ser uma história de revolução feminista. A execução, porém, deixou um pouco a desejar.

Sinopse:
“Duas irmãs lutam para mudar o próprio destino no primeiro volume de uma série de fantasia repleta de romance, ação e intrigas políticas.

Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças ― jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro.

Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real ― mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes.

Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram ― e farão de tudo para se reencontrar.”

Nomi e Serina são irmãs apresentadas com ideais diferentes. A mais velha Nomi, é contra o governo que proíbe que mulheres aprendam a ler, e secretamente insistiu para que seu irmão Renzo a ensinasse. Serina foi criada para ser uma candidata a Graça, portanto passou a vida sendo preparada para ser a mais bela, talentosa e obediente possível. 

Logo de início, Serina pede que Nomi não seja tão abertamente contrária às regras, mesmo que sua contrariedade venha em forma de uma careta na hora errada. Elas sabem que qualquer passo em falso pode levar à punição, e se alguém descobrir que Nomi saber ler, um dos maiores crimes que uma mulher pode cometer, sua família toda pode pagar.

Por esse motivo eu não consegui me conectar com Nomi. Ela sabe que suas ações têm consequências, não apenas para ela, mas mesmo assim age de forma imprudente. E não por querer derrubar o sistema, ou causar uma revolução, ela simplesmente age sem pensar em momentos cruciais, sem motivo.

Decisões impensadas como essa faz com que o Herdeiro, Malachi, a escolhesse como uma de suas Graças – que são mais ou menos como um harém, mulheres a serviço do governante para companhia, entretenimento e prazer -, no lugar de Serina,  faz com que sua irmã seja acusada de saber ler e punida por isso, sendo que Serina nem sequer tinha a habilidade.

Enquanto Nomi fica no palácio como Graça e treina para entreter o Herdeiro, Serina é enviado ao Monte Ruína, uma prisão para mulheres em uma ilha onde há um vulcão ativo e guardas impiedosos. Lá, as prisioneiras são divididas em grupos e são obrigadas a lutar entre si até a morte para conseguirem os poucos recursos disponíveis, para entretenimento dos guardas.

Os capítulos de Serina são muito superiores aos de Nomi. O cenário de vários grupos de mulheres espalhados pela ilha, lutando para sobreviver não apenas às lutas, mas também ao terror psicológico de estar nessas circunstâncias. Serina, que sempre foi criada para ser apenas algo bonito, endurece e aprende a confiar em si mesma, a lutar pelo que acredita, e se torna uma verdadeira líder. As personagens secundárias aqui também são muito mais bem desenvolvidas, com Serina criando laços de aliança e até amizade com as outras prisioneiras, que compartilham de suas histórias trágicas. 

Nomi, no palácio, basicamente interage com o Herdeiro, de quem ela tem medo e desconfia, e o irmão mais novo, Asa, que é charmoso e instantaneamente a conquista. É até meio ridículo como ela confia em Asa simplesmente por ele sorrir e parecer mais descontraído. O pouco que Nomi convive com as outras Graças é sempre em segundo plano, apesar de parecer que é na companhia delas que ela passa maior parte do tempo. Suas duas “irmãs” são Cassia e Maris. A primeira quase não tem desenvolvimento nenhum, e a segunda tem uma boa história que eu espero que seja melhor aproveitada no próximo volume.

Senti que todo o potencial que esse livro tinha para ser uma trama feminista foi meio que jogado de lado para ter romances sem sentido e garotas que poderiam ser bem desenvolvidas serem desperdiçadas – claro que estou falando de Nomi. É meio que todos temas de distopias com personagens femininas como protagonista – já vimos em Jogos Vorazes, Divergente, A Seleção, A Rainha Vermelha -, o que não é de todo ruim, se executado com criatividade. Senti que faltou um pouco de originalidade na trama.

A grande reviravolta final foi, pelo menos para mim, bem previsível. Logo de cara já percebi quais eram os objetivos dos personagens e qual seria o final.

Apesar disso, foi uma leitura agradável, que cumpriu seu papel. Não sei se lerei o próximo volume, Glória e Ruína, já lançado no Brasil pela editora Seguinte, mas nunca diga nunca.

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