*Resenha* As Quatro Rainhas Mortas


Fiquei encantada com a capa deste livro da autora Astrid Scholte, publicado no Brasil pela editora Galera Record. Recebi o livro na malinha de novembro do Turista Literário. 

Sinopse:
“Na efervescência de paixões proibidas, segredos e alguns mistérios, o reinado das quatro rainhas de Quadara está ameaçado – resta saber como, e por quem. No continente de Quadara, há séculos quatro rainhas reinam absolutas, cada uma representando o próprio quadrante. Juntas, mas separadas. A decidida Iris fala por Archia, a ilha de terras férteis; a estoica Corra representa a tecnológica Eonia; Marguerite, a mais velha das rainhas, é a soberana de Toria e de seus curiosos habitantes; e Stessa, a mais jovem, é o rosto de Ludia, o quadrante da diversão e da arte. As quatro mulheres dividem o poder, sempre respeitando as Leis das Rainhas, sempre pensando no povo e no melhor para a nação. Mas elas têm segredos, e estes podem ser letais. Tão letais quanto Kelarie Corrington. Aos 17 anos, a toriana é a mais hábil larápia e a melhor mentirosa de Jetée. um distrito de excessos, contrabando e charlatões. O último lugar que Varin, um mensageiro eonista, deveria visitar. Mas ele foi roubado... por Keralie, e a jovem é a única esperança de reaver a mercadoria e manter seu emprego. Um mensageiro nunca pode perder sua encomenda. Para piorar, há coisas muito mais sinistras nos chips de comunicação afanados por Keralie. Algo que pode enredar a larápia e o mensageiro em uma conspiração para assassinar as quatro rainhas de Quadara. Sem opção, os dois resolvem se unir para descobrir o assassino e salvar a própria vida no processo. Quando sua relutante parceria começa a se transformar em algo mais, os dois precisam aprender a confiar um no outro e a superar as diferenças entre quadrantes para viver esse amor. Mas será que uma curiosa toriana e um insensível eonista têm alguma chance?”

A premissa é muito interessante. Uma sociedade dividida entre quatro quadrantes, cada um com suas particularidades e cultura – mais ou menos como os Distritos em Jogos Vorazes, ou as Facções de Divergente -, e governado por uma rainha que deve sempre colocar as tradições do quadrante acima de tudo. As quatro Rainhas, dessa forma, governam o continente. 

O quadrante de Eonia é responsável pela tecnologia, Archia é onde há plantações, Ludia, o quadrante de artistas, e Toria, onde vivem os... curiosos? Não entendi muito bem o sentido deste quadrante. Parece mais que foi inserido para que os leitores se identifiquem com os cidadãos desse quadrante, e não parece ter um propósito maior, como a produção de alimentos, bens e entretenimento como os outros. 

Nossa personagem principal é Keralie, uma jovem criminosa que busca liberdade e independência, a ponto de renegar a família para seguir o próprio caminho. Ela é do quadrante de Toria, e acaba de metendo em uma trama de assassinato ao roubar os chips de comunicação de Varin, um mensageiro do quadrante de Eonia. Esses chips são uma tecnologia muito avançada que permitem pessoas transmitir suas memórias, e Keralie acaba visualizando o conteúdo dos chips roubados.

Os capítulos são intercalados entre Keralie e as Rainhas, portanto vemos a jornada de Keralie e Varin acontecendo do lado de fora do palácio, enquanto conhecemos as quatro Rainhas e suas tarefas dentro do palácio, de onde nunca podem sair uma vez que são coroadas. Dessa forma, temos uma história não linear, o que eu achei muito bem executado.

Particularmente, os capítulos das Rainhas foram os meus favoritos. 

Foi interessante ver que elas são prisioneiras de suas posições, já que o cargo é hereditário, ou seja, uma rainha sempre deve ter uma filha ou uma parente mulher para poder passar o cargo – seja abdicando ou por morte -, e é necessário que elas sejam sempre do quadrante que irão governar. E mais, a Rainha não é permitida de criar sua filha. A criança deve ser criada em seu respectivo quadrante, e apenas retornar ao palácio quanto sua antecessora – normalmente sua mãe – morrer.

As Rainhas também não podem ter relacionamentos amorosos, uma vez que isso pode prejudicar o julgamento sobre o que é melhor para seus quadrantes, portanto elas vivem praticamente isoladas de qualquer conexão humana. Elas não se casam, apenas escolhem homens para gerarem herdeiras.

A dinâmica entre as Rainhas e como cada uma se comporta mediante às regras impostas à vida de monarca é, na minha opinião, o ponto forte do livro. Elas sofrem pelo que não podem ter e se perguntam constantemente se é possível fazer algo para mudar sua realidade, ao mesmo tempo que não dão a atenção devida aos seus povos pois estão presas dentro do palácio, sem saber as condições reais do continente.

Por exemplo, os quadrantes não podem se misturar de maneira nenhuma. Quando um agricultor de Archia pede à rainha Iris que ela permita tecnologia de Eonia para auxiliar nas plantações, a rainha nega, pois vai contra as tradições do quadrante, mesmo que fosse ajudar a aumentar a produção. Não há troca cultural nenhuma entre os cidadãos dos quatro quadrantes.

A dinâmica de Keralie e Varin é um pouco forçada, anti-heroina com coração de ouro e rapaz que vai aos poucos descobrindo que ela não é tão durona assim. Achei os dois um tanto sem graça, e gostaria de ver mais um pouco de Varin explorado, uma vez que o pouco que aparece sobre Eonia é bem interessante, e merecia mais atenção.

Outro personagem que me decepcionou foi Mackiel, o “chefe” de Keralie no começo da história. Os dois eram amigos de infância e parece que até pode ter havido uma paixonite, mas de repente Keralie percebe que ele é um criminoso inescrupuloso. O quê??? Senti que a autora tentou fazer o mesmo que Leigh Bardugo fez com Kaz Brekker – um dos meus personagens favoritos -, mas não houve profundidade, não há motivo nenhum aparente para as ações de Mackiel, nem mesmo as revelações finais – sem spoilers!

O twist final foi interessante, apesar de eu achar que ficou um pouco raso e poderia ser melhor explicado.

No geral, a leitura foi bem agradável, mas acho que uma duologia seria uma maneira melhor de explorar todas as tramas do que um volume único, o que é o caso. Eu, pelo menos, leria um segundo volume sobre a sociedade de Quadrara, talvez até um prelúdio. 


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