*Resenha* Orgulho
Conheci esse livro assistindo ao painel da autora Ibi Zoboi na Flipop desse ano, e fiquei bem interessada. É inspirado em Orgulho e Preconceito, de uma forma moderna e com protagonismo preto e haitiano. Confesso que nunca li o clássico de Jane Austen nem assisti adaptações cinematográficas, então não tenho como comparar as duas obras.
Zuri Benitez sempre viveu no bairro nova-iorquino de Bushwick e tem orgulho das tradições do bairro. Todo mundo se conhece, é quase como uma grande família. Quando a família Darcy se muda para o casarão recém-reformado do outro lado da rua, Zuri sabe que as coisas vão mudar. Os Darcy são ricos e não se encaixam em Bushwick, e Zuri teme que o bairro perca sua essência com a família ali. Isso sem contar com o fato de sua irmã mais velha estar encantada com o filho mais velho dos Darcy, o que Zuri já prevê que não vai dar certo. O que ela não prevê é seu próprio envolvimento com o carrancudo e esnobe Darius Darcy.
No começo achei Zuri meio chata. Ela é um pouco preconceituosa e tem um pensamento restritivo de “minha gente e ninguém mais” que julga e afasta pessoas que não são como ela. Os Darcy são esnobes? Sim! Mas ela também é, de certa forma, pois julga sem conhecer.
A verdade é que Zuri teme mudanças, e qualquer coisa diferente do seu normal é uma ameaça. Quando sua irmã Janae volta para passar as férias da faculdade em casa, Zuri quer que tudo volte como era antes de Janae partir, ignorando toda experiência que a irmã adquiriu durante o ano fora.
Ela é muito protetora das irmãs e da família, sempre antecipando julgamentos de outros por sua família ser escandalosa e expansiva. Ela mesma tem um pouco de vergonha da família, por mais orgulho que tenha de seus pais e irmãs.
Conforme a história avança, Zuri expande seus horizontes para além do mundinho de Bushwick e abre um pouco mais a cabeça. Ela escreve poemas sobre seu cotidiano e até cria coragem para declamar suas palavras.
Darius Darcy intriga e irrita Zuri. Ele está sempre de nariz em pé, mas quando se abre, Zuri descobre um rapaz artístico, sensível e que não desiste de um desafio. Senti que poderia ter mais desenvolvimento sobre Darius e a família Darcy, mais profundidade.
Na minha opinião, a história toda podia ter dado mais profundidade aos personagens, mas a história é de Zuri, e a jornada dela é que é contada.
Temas como gentrificacão - que é a valorização de um bairro/área por meio de novas moradias ou comércios, afetando a população de baixa renda -, racismo e classismo estão muito presentes trama, além da narrativa de amadurecimento de Zuri. A crítica social vem das vivências da própria autora no bairro de Bushwick, onde famílias de várias origens se misturavam e dividiam suas culturas. Religião também tem espaço no livros, em especial as de origem africana.
Fiquei bem interessada em conhecer os outros trabalhos da autora, especialmente o livro escrito em verso com Yusef Salaam - cuja história real de condenação falsa e injusta foi retratada na minissérie Olhos Que Condenam -, Punching The Air.
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