*Resenha* Lembranças – A Mediadora
Meg Cabot
399 páginas
Editora Galera Record

Ah, a escrita maravilhosa da eterna Meg Cabot. Como é bom voltar ao início.

Sim, porque A Mediadora foi um início para mim. Depois de Harry Potter, lá nos meus oito aninhos de idade, foi A Mediadora que iniciou meu vício em livros. Ok, eu tinha muito contato com livros infanto-juvenis brasileiro, adoro até hoje os livros do Pedro Bandeira e da coleção Salve-se Quem Puder, mas livros “maiorzinhos”, com mais que 150 páginas, não eram exatamente o meu foco.

Até ali.

Li Reunião, o terceiro livro da série A Mediadora, quando tinha 13 anos, ou seja, dez anos atrás. Peguei emprestado da minha prima, por que, por algum motivo, ela só tinha os livros 3 e 4, não os dois primeiros.

Não que isso me impedisse, claro.

Adorei Suze Simon logo de cara. Como praticamente todas as protagonistas da Meg, é impossível não se identificar, e me identifiquei com Suze especialmente. Ela era meio a adolescente que eu queria ser (só tinha 13 anos, então ter 16, como ela tinha no livro, era muito mais velha). Apaixonei-me por Jesse, como não, e adorei todos os personagens secundários (Soneca, Dunga e Mestre, CeeCee e Adam, Kelly e Debbie), e o padre Dominic sempre presente para contrastar tanto com a personalidade explosiva da protagonista.

Foi meu primeiro contato com Meg Cabot, e foi a primeira vez que senti vontade de escrever minhas próprias histórias, e por causa disso, A Mediadora sempre terá um lugar especial no meu coração.

15 anos depois do lançamento A Terra das Sombras, Suze está de volta e, assim como os leitores, ela cresceu. Agora com 22/23 anos, ela está estudando para se tornar conselheira educacional, com o intuito de ajudar jovens como ela fora um dia, que tem terríveis segredos que não podem confiar a ninguém. Ela trabalha como estagiária (não remunerada) na boa e velha Academia da Missão Padre Junípero Serra e está noiva (noiva!) de seu amado ex-fantasma Jesse De Silva. Jesse, por sua vez, é residente de medicina em Monterrey e está cada vez mais perto de realizar o sonho de se tornar pediatra. Agora ele é o Dr. De Silva.

Gostei muito de ver como os personagens mudaram, como eles evoluíram, nos seis anos que se passaram desde Crepúsculo, sexto livro da série. Não só estão todos mais velhos, com vidas profissionais encaminhadas com as quais os leitores se identificam, mas alguns vão por caminhos que me deixaram surpresa.

Suze e Jesse continuam os mesmo, apesar de amadurecidos - o que é meio relativo quando se trata de Suze Simon -, e Paul Slater, que retorna como "vilão", também não mudou nada. A dinâmica do trio é mesmo muito boa, a forma como eles interagem, com suas índoles diferentes - Paul é o cara do mal, Suze é ambígua, Jesse é o príncipe encantado (ou será que não?) - e suas visões de mundo que chocam umas contra as outras de forma explosiva.

A trama central gira em torno de uma Pessoa Morta Não Obediente, ou PMNO, como Suze afetuosamente chama os fantasmas que causam problemas. Só que essa PMNO não é mais um adolescente revoltado que morreu antes da hora, não é um espírito buscando vingança. O fantasma da vez é uma garotinha protetora que não sabe a própria força, e acaba causando vários problemas para Suze e o padre Dom.

Não entrarei em detalhes, para não dar spoiler de nada.

Achei muito legal que a PMNO força Suze a usar seu treinamento como conselheira para ajudar não só a fantasminha, mas também a pobre menina que é assombrada pelo espírito. É interessante ver como Suze lida com outras pessoas agora que tem uma visão mais ampla do que motiva certas atitudes que certos personagens tomam.

A outra parte da história envolve Paul sendo seu eu inconveniente de sempre, só que agora ele é rico e poderoso depois de herdar a empresa do avô. Ele realmente acredita que pode basicamente comprar Suze - inclusive fazendo alguns comentários machistas, mas isso é do personagem, que reconhece que o que está dizendo é machista em mais de uma ocasião.

A proposta dele é simples: ou Suze dorme com ele, ou ela vai demolir a antiga casa da família Simon-Ackerman, que foi onde Suze e Jesse se conheceram, e onde Jesse morreu. Não parece nada mal, a não ser pelo fato de que, supostamente, a demolição da casa transformaria Jesse em um demônio e lançaria uma maldição sobre quem o trouxe de volta dos mortos e aqueles que ele ama. Ou seja, Suze se vê numa saia justíssima.

Mas ela não é Suze Simon, aquela que arrancou a cabeça da estátua do padre Serra anos antes - não foi ela quem arrancou a cabeça, mas todo mundo acha que foi, afinal, não tem como saberem que foi realmente um fantasma -, por nada. Claro que ela tem o plano perfeito para sair desse aperto. Certo?

No geral, me senti voltando tempo - e nem sou mediadora, quem diria? - ao ler esse livro. Foi como reencontrar velhos amigos, apesar de alguns ficarem um pouco de fora, como o padre Dom, que aparece bem pouquinho. Meg Cabot ainda tem o toque especial que me viciou em livros e me inspirou a escrever.

Sem falar que a capa é linda.



Recomendo este e também o conto O Pedido, que se passa antes de Lembranças, e que mostra como Jesse pediu Suze em casamento. E como, sendo Suzannah Simon, ela acaba estragando um pouco a surpresa ao arrastar o então namorado para uma caça a fantasmas.

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